Educar com arte e a arte de educar (William Lara)
A tarefa da educação é delicada porque supõe, em
princípio, amor, desprendimento, doçura, firmeza, paciência e decisão.
Diversas obras já foram escritas sobre esse
assunto. Quantas vezes professores e pais, cheios de entusiasmo e esperança,
compram este ou aquele livro com o intuito de resolver um problema específico
que os preocupa em relação à atitude de alunos e de suas crianças?
Ao ler... vê-se tão fácil! Os livros contêm, às
vezes, infinidades de teorias, fórmulas e até conselhos que parecem mágicos,
com diálogos imaginados e reações quase perfeitas dos alunos e das crianças
diante da iniciativa dos professores e dos pais. Se fosse apenas isso, na vida
diária...
No entanto, a realidade é outra. Quando os professores e os pais tentam colocar
em prática alguns desses conceitos que acabam de ler e isso não sai como eles
esperavam, pensam: "O que aconteceu? Onde está o erro, se fiz exatamente o
que o livro dizia?"
Acontece que "educar é uma ciência e uma arte; uma arte porque não tem
regras fixas, ou seja, cada caso é diferente, cada circunstância é única".
Um pequeno texto, uma palavra, um gesto, uma
pintura, um desenho ou uma ajuda em uma situação em que não esperávamos pode
preencher uma vida, mudar seus horizontes e abrir possibilidades para nós
mesmos, pois muitas vezes entender, explicitar ou descrever é um bem, um
exercício.
Então...
O que podem fazer vocês, professores e pais, quando
se sentem desorientados e aflitos? Às vezes querem se dar por vencidos ou
descarregar a responsabilidade em um terceiro (coordenadores, psicólogos,
etc.). Mas, no fundo, todos sabem que é sua responsabilidade dar aos alunos e
filhos as ferramentas e respostas de que necessitam. São os educadores que
devem ensinar-lhes o sentido da vida e capacitá-los para vivê-la.
O objeto da educação não está só no sentido literal
do verbo “educar”, mas, sim, no modo como o fazemos, a forma como prosseguimos
pensando, o tipo de distinções que apresentamos, a moral e a ética dos critérios
em que baseamos o caminho a percorrer.
Educar é como ensinar alguém a andar ou a falar
(nada de metafórico existe nessa comparação). Andar verticalmente e falar é a
educação mais fundamental do modo de ser quem somos: humanos. Aprender a ler, a
fazer contas e a dominar a técnica, o conhecimento científico e o processo de
desenvolvimento de mais e mais conhecimentos no âmbito de uma comunidade em que
estamos imersos é a mesma coisa que aprender a falar. Todos esses aspectos que
enquanto adultos nos envolvem são distinções no âmbito do processo fundamental
que nós próprios somos: um erguer e um puxar, um indicar de possibilidades, um
mostrar de mundos, um incentivar e ajudar, um responsabilizar, autonomizar e
cuidar.
Em resumo, educar, desde os primeiros dias até os
últimos, é deixar os outros serem humanos — ensinar, no sentido de educar, é
muito mais difícil do que aprender. E por que isso é assim? Não apenas porque
quem ensina deve dominar uma maior massa de informações e tê-la sempre pronta a
ser utilizada, mas porque ensinar requer algo muito mais difícil, complexo e
poderoso: deixar aprender.
Quem verdadeiramente ensina passa realmente pelo
aprender. Esse aprender, por sua vez, deixa de ser revelado e tem seu
fundamento na liberdade individual.
O que aprendemos quando aprendemos a aprender? O
que aprendemos quando somos educados? O que é a educação? Com base em que a
educação ganha seu sentido, sua pertinência, sua vitalidade e seu caráter
decisivo? A resposta é simples: educar é deixar surgir o homem e suas
possibilidades.
Por tudo isso, a educação é essencialmente um
apontar de possibilidades, de distinções, de relações e de humanidade. Educar é
abrir, é erguer, é questionar, é duvidar e ensinar a duvidar, é ser modesto em
saber ajudar. Quem deve então educar quem? A resposta é a mesma que foi dada à
pergunta “Quem ajuda quem?”.
Viver é aprender. O tempo muda-nos porque tudo nos
ensina. Passando o que passa, aprendemos o que fica. O passado fica da forma
como para cada um de nós as coisas ganham seus significados, individualmente,
em uma vida que é um permanente ter sido e um constante projetar de
possibilidades. Uma chamada pelo nome, uma ajuda quando nada se esperava ou uma
idéia tocada pelo entusiasmo, pela imaginação e pela vontade de partilhar, um
olhar de cumplicidade, uma conversa sobre o que nunca se consegue ler, mas que
sempre nos preocupou, ou simplesmente o brilho de um momento, o vislumbre de
uma possibilidade que dá um sentido fundo ao que temos sido podem fazer muitas
vezes tudo o que mais pode marcar um caminho e uma forma de estar no mundo.
Poderão questionar-se sobre que temas, assuntos,
momentos ou histórias estamos aqui para falar...
A resposta é esta: sobre todos.
Na educação, o essencial não é o assunto ou o
conteúdo, mas a perspectiva, o modo e a relação. Ou, antes, o objeto da
educação não é um tema, como, por exemplo, a Geografia, a História, a
Matemática, a Literatura ou as Artes Plásticas. Aquilo sobre o que a educação
recai é um modo de ser, que cuida, que toma conta, que se envolve, deixa-se
envolver e deixa ser.
Ouvimos muita coisa sobre educação nos dias atuais.
Mas, tanto ontem como hoje, o homem é ele mesmo a educação, o ser que se
ergueu, que repara e que cuida. Cuidando e ajudando, chamando e sendo cúmplices
dessa chamada para a escolha constante das infinitas possibilidades que cada um
de nós tem pela frente, podemos abrir o caminho e verdadeiramente educar e
educar-nos.
Uma hora é uma medida, uma bola é um passatempo e
um conceito é um instrumento, mas cada um de nós é todo o mundo. São todos os
mundos do mundo que a educação tem por tema. Assim, a qualquer momento em
qualquer mundo, uma palavra, um gesto ou um olhar pode entrar e não mais sair.
Se tivermos sabido ou podido preservar e deixar preservar esses momentos,
podemos muito bem tocar não apenas naquilo que no momento estamos fazendo, mas
toda uma vida — e isso é verdadeiramente o objeto do educar.
* William Lara é jornalista, pós-graduado em
Jornalismo Científico e editor da revista de educação Páginas Abertas - Paulus
Editora.
willylara@aol.com
Realmente professora, Educar é uma arte, vou mais além " Educar é uma das grandiosas missão que o educador conssegue realizar", isto porque cada ser é único. Parab´ns pela escplha do texto.
ResponderExcluirIvone mcecília.
Oi Ivone, que bom que gostou, fico feliz com tua visita, seu comentário é muito significativo. Volte sempre.
ExcluirGostei muito do blog professora, continue postando, textos riquissimos. Carlos PE.
ResponderExcluirObrigada Carlos, tento postar o melhor para os leitores, volte sempre sua opinião é muito importante.
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