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quarta-feira, 4 de julho de 2012

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO.


A Importância do Brincar na Construção do Conhecimento.
Autora: Renata Cristine de Oliveira 


    Em se tratando de Psicologia Educacional, pode-se dizer que a mesma surge no âmbito do desconforto, onde professores, pais, diretores e a escola em si sentem-se desamparados frente ao número crescente de crianças impossibilitadas de participar do processo de evolução da aprendizagem. Tal desconforto é real, pois a impossibilidade frente ao saber desencadeia na criança outros processos que dificultam o andamento escolar. As crianças, desde então, são rotuladas a partir de comportamentos que podem se associar aos distúrbios da aprendizagem: agressivas, apáticas, desinteressadas, desatentas, desorganizadas, etc. Desse modo, intervenções que possibilitem a integração da criança ao mundo do saber tornam-se necessárias.
A melhor forma de colocar esse processo em andamento é através do lúdico, do jogo, do brincar. Sabe-se que o ser humano tem recebido muitas designações: Homo Sapiens porque possui como função o raciocínio para apreender e conhecer o mundo; Homo Faber porque fabrica objetos e utensílios, e Homo Ludens porque é capaz de dedicar-se às atividades lúdicas, melhor dizendo, ao jogo.
Pode-se dizer que o ato de jogar é tão antigo quanto o próprio homem, pois este sempre demonstrou um impulso para o jogo. Jogar é uma atividade natural do ser humano. Através do jogo e do brinquedo, o mesmo reproduz e recria o meio circundante.
Neste sentido, é correto dizer que a brincadeira simbólica fornece à criança a possibilidade de ir ao outro, viver suas respectivas experiências e voltar novamente ao seu próprio mundo. A criança, ao brincar, desenvolve sua capacidade de refletir sobre os fatos reais de formas cada vez mais abstratas, bem como constrói sua realidade, tanto pessoal quanto social. Brincando, a criança conscientiza-se de si mesma como ser agente e criativo. A relação do brincar produz e reproduz emoções, possibilitando nomear e organizar um mundo de caos para um mundo de descobertas, facilitando a abertura para o campo cognitivo.
Baseando-se na pedagogia, pode-se dizer ainda que o brincar é a forma mais fácil e real para se estabelecer relações afetivas com a criança, transmitindo-lhe segurança e confiança para que a sua introdução no processo de escolarização seja saudável e prazerosa, sem sofrimentos e culpas. Através do brincar e das gratificações efetivas que acompanham esta atividade, a criança dá vazão à sua ânsia de conhecer e descobrir.
Enquanto brinca, a criança está consciente de que está representando um objeto, situação ou fato, mas, ao mesmo tempo, está inconsciente de que esteja representando algo que lhe escapa por estar fora do campo de sua consciência no momento. A brincadeira simbólica, como as demais manifestações simbólicas, daria à criança condições de aprender a lidar com suas emoções e afetos.
É particularmente interessante observar um processo análogo nas crianças, com alternância de movimentos com predomínio de abertura, e outros de fechamento, tanto em nível físico-funcional, como em nível simbólico-representativo. Através da observação das brincadeiras das crianças, constata-se realmente que a cada abertura ao meio corresponde um movimento complementar de interiorização, evidenciando-se a organização interna da ação.
A brincadeira simbólica vem sendo utilizada na área clínica, principalmente pela escola psicanalítica, há vários anos. No trabalho de consultório, quer em psicologia clínica, quer em psicopedagogia, muitas crianças são atendidas através do lúdico. “O brincar se dá no espaço potencial e é sempre uma experiência criativa, na continuidade espaço-tempo, uma forma básica de viver” (WINNICOTT, 1993, p. 45).
Sobre a brincadeira, mais especificamente a que ocorre na fase operacional concreta, há de se considerar também que, entre os sete e os onze/doze anos, verifica-se uma coordenação cada vez mais estreita de papéis e um aumento da socialização, que se desenvolve e subsiste durante toda a vida. Por volta dos seis/sete anos, aumenta-se novamente a atividade física da criança, o corpo encontra-se em modificação, daí a necessidade de construir um novo esquema corporal. Agora a criança tem um bom equilíbrio e muita facilidade para aprender a pular de um pé, pular corda, andar de bicicleta e para jogos com regras, mas ainda é, às vezes, difícil aceitar as regras e todas só querem ganhar. A criança observa e controla os outros membros do grupo para verificar se estão seguindo adequadamente as regras. A violação das regras gera grandes discussões. O fato de perder torna-se intolerável para algumas crianças, dando origem a cenas de choro e até mesmo de agressão. Nessa fase, abandona-se o egocentrismo em proveito da aplicação efetiva de regras e do espírito de cooperação dos jogadores. Observa-se que existe uma evolução do brincar de um estado mais egocêntrico até a socialização. Aqui, constata-se que o jogo inicialmente egocêntrico e espontâneo torna-se cada vez mais socializado.
Ao abordar a brincadeira de forma histórica, pode-se ressaltar que o conteúdo social da mesma tem mudado através do tempo. Porém, a sua essência raramente se altera. Dentro de cada faixa etária, o jogo da criança responde sempre às mesmas características lúdicas. Ao brincar e jogar, a criança fica tão envolvida com o que está fazendo que coloca na ação seu sentimento e emoção. A brincadeira na fase operacional concreta é um elo integrador entre os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais. Brincando e jogando, a criança ordena o mundo à sua volta, assimilando experiências e informações, incorporando atividades e valores. A atividade lúdica revela-se como instrumento facilitador da aprendizagem, possuindo valor educacional intrínseco, criando condições para que a criança explore seus movimentos, manipule materiais, interaja com seus companheiros e resolva situações-problema.
O brincar pode ser visto como um recurso mediador no processo de ensino-aprendizagem, tornando-o mais fácil. O brincar enriquece a dinâmica das relações sociais na sala de aula. Possibilita um fortalecimento da relação entre o ser que ensina e o ser que aprende.
As brincadeiras fazem parte do patrimônio lúdico-cultural, traduzindo valores, costumes, forma de pensamentos e aprendizagem. Os jogos e as brincadeiras fornecem à criança de sete a dez anos a possibilidade de ser um sujeito ativo, construtor do seu próprio conhecimento, alcançando progressivos graus de autonomia frente às estimulações do seu ambiente.
A intervenção do professor é necessária e conveniente no processo de ensino-aprendizagem, além da interação social ser indispensável para o desenvolvimento do pensamento. As incitações do professor ajudam as crianças na reflexão sobre suas próprias ações. Juntos e com afeto, aluno e professor podem transformar o conhecimento em um processo contínuo de construção. Cabe ao professor criar situações adequadas para provocar curiosidade na criança e estimular a construção de seu conhecimento. Pode-se perceber nesse momento, a importância de se proporcionar à criança de sete a dez anos a vivência de situações concretas com jogos diversos e múltiplas atividades que favoreçam a construção de um ambiente alfabetizador. A tarefa essencial do educador deve estar voltada para seduzir o aluno, para que ele deseje e, desejando, aprenda. Os jogos também contribuem para o desenvolvimento do pensamento lógico-matemático. Através deles, criam-se situações de aprendizagem para a criança. “O ensino da matemática fundir-se-á à aprendizagem natural, espontânea e prazerosa que as crianças experimentam desde o nascer” (FAGALI E DEL RIO DO VALE, 1993, p. 15). Os jogos desafiam o pensamento da criança, provocando desequilíbrio, proporcionando descobertas e invenções, não a memorização mecânica.
Na aula modelada pelo método tradicional, o professor tem a palavra como poder e a autoridade como reforço e condutor do conhecimento. Saber e poder juntam-se para dar-lhe segurança. Não obstante, o brincar ganha espaço na aula modelada pela criatividade, espontaneidade e desafio do pensamento da criança. Em tal aula, busca-se criar um ambiente estimulador, envolto num clima de respeito mútuo, no qual o professor procura ajudar o seu aluno a estruturar sua personalidade, autonomia, auto-estima, iniciativa própria e conhecimentos. É colocado por Piaget (1984) que aprender, realmente, é um processo de investigação pessoal em que se formulam hipóteses como faz um pesquisador, o qual tem inspirações, engana-se, avança e recua, sofre e se alegra sucessivamente. As verdadeiras aprendizagens não se fazem copiando do quadro ou prestando atenção ao professor. A audácia de abandonar as cartilhas e confrontar os alunos com a riqueza do contato simultâneo com todas as letras, qualquer palavra, frases e textos, é que, de forma significativa, tem revertido os insucessos em muitas salas de aulas.
Todavia, o brincar, muitas vezes, acrescenta ao currículo escolar uma maior vivacidade de situações que ampliam as possibilidades de a criança aprender e construir o conhecimento. O brincar permite que o aprendiz tenha mais liberdade de pensar e de criar para desenvolver-se plenamente.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FAGALI, Eloísa Quadros; DEL RIO DO VALE, Zélia. Psicopedagogia Institucional aplicada: A aprendizagem Escolar Dinâmica e Construção na sala de aula. Petrópolis: Vozes, 1993. 

PIAGET, Jean. Para Onde Vai a Educação? Rio de Janeiro: José Olympio, 1984.
WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: IMAGO, 1993.

Renata Cristine de Oliveira - Psicóloga e Psicopedagoga; Especialista em Saúde Pública; Mestranda em Educação, Cultura e Organizações Sociais (Linha de Pesquisa em Saúde Coletiva) pela FUNEDI/UEMG. Recebe bolsa de auxílio para Mestrado por meio do Convênio FUNEDI-UEMG-ESTADO DE MINAS GERAIS.

OBSERVAÇÃO: As fotos que inlustram esta página foram cópias na internet. 

A INFÂNCIA E SUA SINGULARIDADE.SÔNIA KRAMER.




A INFÂNCIA E SUA SINGULARIDADE 



“Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr.Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.

Carlos Drummond de Andrade


  Este texto tem o objetivo de refletir sobre a infância e sua singularidade. Nele, a infância é entendida, por um lado, como categoria social e como categoria da história humana, englobando aspectos que afetam também o que temos chamado de adolescência ou juventude. Por outro lado, a infância é entendida como período da história de cada um, que se estende, na nossa sociedade, do nascimento até aproximadamente dez anos de idade. Pretendemos, com este texto, discutir a infância, a escola e os desafios colocados hoje para a educação infantil e o ensino fundamental de nove anos.
Numa sociedade desigual, as crianças desempenham, nos diversos contextos, papeis diferentes.Inicialmente, são apresentadas algumas idéias sobre infância, história, sociedade e cultura contemporânea. Em seguida, analisamos as crianças e a chamada cultura infantil, tentando refletir sobre o significado de atuarmos com as crianças como sujeitos. Aqui, focalizamos também interações, tensões e contradições entre crianças e adultos, um grande desafio enfrentado atualmente. Por fim, abordamos o impacto dessas reflexões, considerando os direitos das crianças, a educação infantil e o ensino fundamental.

"Numa sociedade desigual, as crianças desempenham, nos diversos contextos, papeis diferentes."

"Em contextos em que não há garantia de direitos, acentua-se a desigualdade e a injustiça social"

Sem conhecer as interações, não há como educar crianças e  jovens numa perspectiva de humanização necessária para subsidiar políticas públicas e práticas educativas solidárias".  

 Texto escrito a partir de: KRAMER, S. Infância, cultura e educação. In: PAIVA, A. ; EVANGELISTA, A. PAULINO, G.;
VERSIANIN, Z. (Org.). No fi m do século: a diversidade. O jogo do livro infantil e juvenil. Editora Autêntica/CEALE, 2000, p. 9-36;
e KRAMER, S. Direitos da criança e projeto político-pedagógico de educação infantil. In: BAZILIO, L.; KRAMER, S. Infância, educação
e direitos humanos. São Paulo: Ed.Cortez, 2003. p. 51-81.
2 Professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, onde coordena o Curso de Especialização em Educação
Infantil.