A
Importância do Brincar na Construção do Conhecimento.
Autora:
Renata Cristine de Oliveira
Em
se tratando de Psicologia Educacional, pode-se dizer que a mesma surge
no âmbito do desconforto, onde professores, pais, diretores e
a escola em si sentem-se desamparados frente ao número crescente
de crianças impossibilitadas de participar do processo de evolução
da aprendizagem. Tal desconforto é real, pois a impossibilidade
frente ao saber desencadeia na criança outros processos que dificultam
o andamento escolar. As crianças, desde então, são
rotuladas a partir de comportamentos que podem se associar aos distúrbios
da aprendizagem: agressivas, apáticas, desinteressadas, desatentas,
desorganizadas, etc. Desse modo, intervenções que possibilitem
a integração da criança ao mundo do saber tornam-se
necessárias.
A melhor forma de colocar esse processo em andamento é através
do lúdico, do jogo, do brincar. Sabe-se
que o ser humano tem recebido muitas designações: Homo
Sapiens porque possui como função o raciocínio
para apreender e conhecer o mundo; Homo Faber porque fabrica objetos
e utensílios, e Homo Ludens porque é capaz de dedicar-se
às atividades lúdicas, melhor dizendo, ao jogo.
Pode-se dizer que o ato de jogar é tão antigo quanto o
próprio homem, pois este sempre demonstrou um impulso para o
jogo. Jogar é uma atividade natural do ser humano. Através
do jogo e do brinquedo, o mesmo reproduz e recria o meio circundante.
Neste sentido, é correto dizer que a brincadeira simbólica
fornece à criança a possibilidade de ir ao outro, viver
suas respectivas experiências e voltar novamente ao seu próprio
mundo. A criança, ao brincar, desenvolve sua capacidade de refletir
sobre os fatos reais de formas cada vez mais abstratas, bem como constrói
sua realidade, tanto pessoal quanto social. Brincando, a criança
conscientiza-se de si mesma como ser agente e criativo. A relação
do brincar produz e reproduz emoções, possibilitando nomear
e organizar um mundo de caos para um mundo de descobertas, facilitando
a abertura para o campo cognitivo.
Baseando-se na pedagogia, pode-se dizer ainda que o brincar é
a forma mais fácil e real para se estabelecer relações
afetivas com a criança, transmitindo-lhe segurança e confiança
para que a sua introdução no processo de escolarização
seja saudável e prazerosa, sem sofrimentos e culpas. Através
do brincar e das gratificações efetivas que acompanham
esta atividade, a criança dá vazão à sua
ânsia de conhecer e descobrir.
Enquanto brinca, a criança está consciente de que está
representando um objeto, situação ou fato, mas, ao mesmo
tempo, está inconsciente de que esteja representando algo que
lhe escapa por estar fora do campo de sua consciência no momento.
A brincadeira simbólica, como as demais manifestações
simbólicas, daria à criança condições
de aprender a lidar com suas emoções e afetos.
É particularmente interessante observar um processo análogo
nas crianças, com alternância de movimentos com predomínio
de abertura, e outros de fechamento, tanto em nível físico-funcional,
como em nível simbólico-representativo. Através
da observação das brincadeiras das crianças, constata-se
realmente que a cada abertura ao meio corresponde um movimento complementar
de interiorização, evidenciando-se a organização
interna da ação.
A brincadeira simbólica vem sendo utilizada na área clínica,
principalmente pela escola psicanalítica, há vários
anos. No trabalho de consultório, quer em psicologia clínica,
quer em psicopedagogia, muitas crianças são atendidas
através do lúdico. “O brincar se dá no espaço
potencial e é sempre uma experiência criativa, na continuidade
espaço-tempo, uma forma básica de viver” (WINNICOTT,
1993, p. 45).
Sobre a brincadeira, mais especificamente a que ocorre na fase operacional
concreta, há de se considerar também que, entre os sete
e os onze/doze anos, verifica-se uma coordenação cada
vez mais estreita de papéis e um aumento da socialização,
que se desenvolve e subsiste durante toda a vida. Por volta dos seis/sete
anos, aumenta-se novamente a atividade física da criança,
o corpo encontra-se em modificação, daí a necessidade
de construir um novo esquema corporal. Agora a criança tem um
bom equilíbrio e muita facilidade para aprender a pular de um
pé, pular corda, andar de bicicleta e para jogos com regras,
mas ainda é, às vezes, difícil aceitar as regras
e todas só querem ganhar. A criança observa e controla
os outros membros do grupo para verificar se estão seguindo adequadamente
as regras. A violação das regras gera grandes discussões.
O fato de perder torna-se intolerável para algumas crianças,
dando origem a cenas de choro e até mesmo de agressão.
Nessa fase, abandona-se o egocentrismo em proveito da aplicação
efetiva de regras e do espírito de cooperação dos
jogadores. Observa-se que existe uma evolução do brincar
de um estado mais egocêntrico até a socialização.
Aqui, constata-se que o jogo inicialmente egocêntrico e espontâneo
torna-se cada vez mais socializado.
Ao abordar a brincadeira de forma histórica, pode-se ressaltar
que o conteúdo social da mesma tem mudado através do tempo.
Porém, a sua essência raramente se altera. Dentro de cada
faixa etária, o jogo da criança responde sempre às
mesmas características lúdicas. Ao brincar e jogar, a
criança fica tão envolvida com o que está fazendo
que coloca na ação seu sentimento e emoção.
A brincadeira na fase operacional concreta é um elo integrador
entre os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais. Brincando
e jogando, a criança ordena o mundo à sua volta, assimilando
experiências e informações, incorporando atividades
e valores. A atividade lúdica revela-se como instrumento facilitador
da aprendizagem, possuindo valor educacional intrínseco, criando
condições para que a criança explore seus movimentos,
manipule materiais, interaja com seus companheiros e resolva situações-problema.
O brincar pode ser visto como um recurso mediador no processo de ensino-aprendizagem,
tornando-o mais fácil. O brincar enriquece a dinâmica das
relações sociais na sala de aula. Possibilita um fortalecimento
da relação entre o ser que ensina e o ser que aprende.
As brincadeiras fazem parte do patrimônio lúdico-cultural,
traduzindo valores, costumes, forma de pensamentos e aprendizagem. Os
jogos e as brincadeiras fornecem à criança de sete a dez
anos a possibilidade de ser um sujeito ativo, construtor do seu próprio
conhecimento, alcançando progressivos graus de autonomia frente
às estimulações do seu ambiente.
A intervenção do professor é necessária
e conveniente no processo de ensino-aprendizagem, além da interação
social ser indispensável para o desenvolvimento do pensamento.
As incitações do professor ajudam as crianças na
reflexão sobre suas próprias ações. Juntos
e com afeto, aluno e professor podem transformar o conhecimento em um
processo contínuo de construção. Cabe ao professor
criar situações adequadas para provocar curiosidade na
criança e estimular a construção de seu conhecimento.
Pode-se perceber nesse momento, a importância de se proporcionar
à criança de sete a dez anos a vivência de situações
concretas com jogos diversos e múltiplas atividades que favoreçam
a construção de um ambiente alfabetizador. A tarefa essencial
do educador deve estar voltada para seduzir o aluno, para que ele deseje
e, desejando, aprenda. Os jogos também contribuem para o desenvolvimento
do pensamento lógico-matemático. Através deles,
criam-se situações de aprendizagem para a criança.
“O ensino da matemática fundir-se-á à aprendizagem
natural, espontânea e prazerosa que as crianças experimentam
desde o nascer” (FAGALI E DEL RIO DO VALE, 1993, p. 15). Os jogos
desafiam o pensamento da criança, provocando desequilíbrio,
proporcionando descobertas e invenções, não a memorização
mecânica.
Na aula modelada pelo método tradicional, o professor tem a palavra
como poder e a autoridade como reforço e condutor do conhecimento.
Saber e poder juntam-se para dar-lhe segurança. Não obstante,
o brincar ganha espaço na aula modelada pela criatividade, espontaneidade
e desafio do pensamento da criança. Em tal aula, busca-se criar
um ambiente estimulador, envolto num clima de respeito mútuo,
no qual o professor procura ajudar o seu aluno a estruturar sua personalidade,
autonomia, auto-estima, iniciativa própria e conhecimentos. É
colocado por Piaget (1984) que aprender, realmente, é um processo
de investigação pessoal em que se formulam hipóteses
como faz um pesquisador, o qual tem inspirações, engana-se,
avança e recua, sofre e se alegra sucessivamente. As verdadeiras
aprendizagens não se fazem copiando do quadro ou prestando atenção
ao professor. A audácia de abandonar as cartilhas e confrontar
os alunos com a riqueza do contato simultâneo com todas as letras,
qualquer palavra, frases e textos, é que, de forma significativa,
tem revertido os insucessos em muitas salas de aulas.
Todavia, o brincar, muitas vezes, acrescenta ao currículo escolar
uma maior vivacidade de situações que ampliam as possibilidades
de a criança aprender e construir o conhecimento. O brincar permite
que o aprendiz tenha mais liberdade de pensar e de criar para desenvolver-se
plenamente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FAGALI, Eloísa Quadros; DEL RIO DO VALE, Zélia. Psicopedagogia
Institucional aplicada: A aprendizagem Escolar Dinâmica e Construção
na sala de aula. Petrópolis: Vozes, 1993.
PIAGET, Jean. Para Onde Vai a Educação? Rio de Janeiro:
José Olympio, 1984.
WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: IMAGO, 1993.
Renata
Cristine de Oliveira - Psicóloga e Psicopedagoga; Especialista
em Saúde Pública; Mestranda em Educação,
Cultura e Organizações Sociais (Linha de Pesquisa em Saúde
Coletiva) pela FUNEDI/UEMG. Recebe bolsa de auxílio para Mestrado
por meio do Convênio FUNEDI-UEMG-ESTADO DE MINAS GERAIS.
OBSERVAÇÃO: As fotos que inlustram esta página foram cópias na internet.
Sou professora do primeiro ano básico e me considero fruto de uma pedagogia tradicional, mas discordo totalmente de um ensino rígido tradicional. Concordo plenamente que o lúdico deve fazer parte como estratégia de ensino nos dias atuais. Crianças não são adultos em miniatura.
ResponderExcluirAdorei a postagem, Parabéns pelo blog, lindo e muito sugestivo para nós educadores. Fatima PE
Fátima, fico feliz que gostou, volte sempre!!! Obrigada por comentar.
ExcluirPARABENS ADOREI SUA POSTAGEM NAVEGANDO COM NETINHOS,ENCONTREI ALGO INTERESSANTE COM LINDO VISUAL BJS VOVO MIRIAM SP
ResponderExcluirOi Miriam, que bom que gostou, agradeço muito sua gentileza de comentar, é muito importante. Obrigada!!! Bjuss
ExcluirColega professora, estou concluindo a minha segunda especialização em Psicopedagogia e o meu projeto é atividades lúdicas. este texto me servirá de grande apoio, estava justamente pesquisando quando encontrei seu blog. Obrigada por compartilhar tantos conhecimentos, educadores como a senhora, faz a diferença neste Brasil. voltarei outras vezes com meis tempo, trabalho mcientífico para conclusão do curso toma muito tempo. Seu blog ja está entre os meus favorito. Ana Abraços
ResponderExcluirOi Ana! que bom que esta postagem te servirá, fique a vontade, volte sempre, já li na outra postagem seu comentário, te gradeço muito. Patticipe do blog, ficarei grata. Bjuss
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