Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais..
o autor faz uma alusão aos adolescentes, por ainda não estar com a personalidade formada.
No azul da adolescência!
O poema “As Pombas” ilustra uma boa alegoria, pois cada elemento dos dois primeiros quartetos será pontilhado pela imagem correspondente dos dois últimos tercetos. Como se trata de um conjunto de metáforas, logicamente concatenadas, dá-se a alegoria.
No texto, a revoada das aves é apresentada como uma cena do amanhecer. Na terceira estrofe, porém, o conteúdo do poema ganha densidade com a analogia entre pombas e sonhos: as primeiras partem, mas retornam sempre ao cair da tarde, enquanto os sonhos, que deixam os corações, perdem-se pelo vasto mundo.
A excelência dos versos de Raimundo Correia está intimamente ligada a sua capacidade de pintar a natureza em tons fortes, criando imagens sugestivas de grande carga poética.
Sobre um dos poemas publicados, afirmou Manuel Bandeira, em “Raimundo Correia e o seu sortilégio verbal”:
“Foi a propósito de “Plenilúnio” que Lêdo Ivo criou o neologismo “lunaridade” para denominar aquela encantação vocabular que faz da poesia outro idioma dentro de cada idioma. Realmente, não conheço em língua nenhuma, viva ou morta, exemplo mais cabal de lunaridade que esse poema, que exalta até as raias da loucura o sentimento de vigília noturna. Desde a terceira estrofe atinge ele as supremas paragens da visionária demência.”
Lindo poema!
ResponderExcluirBom fim de semana